O CORPO LEMBRA O QUE A MENTE ESQUECE…
As crianças são seres fantásticos…Defende-se das coisas como ninguém, ou melhor, têm um cérebro super protetor que evita a todo o custo o sofrimento, a angústia e, principalmente, todo e qualquer ataque ao EU (ainda em construção) dos seus “donos”.
Assim, cognitivamente, nada se passa e tudo o que de mau possa estar a acontecer, o amigo cérebro trata de apagar ou esconder.
Só temos um problema… O cérebro pode apagar ou até esconder…Mas tudo o que é sensação, tudo o que é emoção, o corpo armazena! E por mais estratégias defensivas que o cérebro queira usar para proteger o EU da criança, tudo, mas mesmo tudo fica guardado no corpo….
O que é que isto implica?
Implica que, por mais que o cérebro da criança a queira proteger o corpo vai sempre recordar. E, por isso, há mínima sensação ou emoção que se assemelhe ao estímulo negativo vivido, por mais que não queira, e porque a sua grande função é proteger, o cérebro vai disparar um sinal de alerta, e a criança irá sentir exatamente o que sentiu no passado, ainda que não saiba, no presente, porquê que o está a sentir.
O coitado do cérebro tem muito boas intenções, mas a verdade é que, nestas situações fica altamente confuso…Se por um lado tem de esconder o evento que possa ter gerado mau estar á criança, por outro lado tem de alertá-la quando situações/sensações semelhantes a esse evento aparecem …
Quando este sinal de alerta é disparado, o corpo pode reagir de 3 formas : Luta, ou foge ou bloqueia…
- Quando usa a estratégia da luta, a criança pode adotar comportamentos de oposição, de agressividade, de impulsividade, de agitação, de reatividade excessiva;
- Quando usa a estratégia da fuga, põe para dentro o sinal de alerta e todas as sensações a ele associadas, tendo depois como consequência, por norma, o desenvolvimento de sintomatologia física como dor de cabeça, dor de barriga, má disposição…é o corpo a dizer que alguma coisa não está bem e que não pode mais continuar a fugir;
- E finalmente, quando usa a estratégia do bloquear simplesmente desliga e a capacidade de reação inibe-se.
…No fundo, este alerta não é uma coisa má. É uma espécie de lembrete para a criança perceber que precisa de ajuda…O problema é que, tendo o cérebro escondido o problema em si, a criança não percebe essa necessidade.
E quanto menos a criança percebe, mais o alarme dispara, e quanto mais ele dispara mais a criança vai ficando alarmada e assustada. Muitas vezes, é nestes contextos que surgem os quadros de ansiedade infantil.
Na verdade, as estratégias defensivas podem ser muito importantes para a fase em que são criadas, mas tornam-se, em muitos casos, grandes barreiras ao desenvolvimento saudável da criança.
Por isto têm de ser os pais a estar alertas e a olhar para além do visível, olhar para além do que o comportamento mostra…É que por detrás do comportamento, existe uma criança e, por vezes, o comportamento é um sinal de alerta e não apenas falta de educação ou “mania”
Fatima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil