A SENHORA TRISTEZA…
E hoje, em exclusivo, apresento a entrevista com a senhora tristeza…
Já viu o filme Divertidamente com os seus filhos? Se sim, deve lembrar-se da Tristeza, aquela personagem azul, meio desanimada, que ninguém parece querer por perto…
E se eu vos dizer que a tristeza pode ser valiosa?
Na verdade, a tristeza é uma emoção poderosa e, quando olhamos bem para ela, percebemos que ela tem muito a ensinar-nos sobre o papel das emoções na vida dos nossos filhos (e na nossa também!).
Vivemos num mundo onde estar sempre feliz parece ser o objetivo final… Quando os nossos filhos estão tristes, a nossa primeira reação é dizer "Ah, não fiques assim! Vamos fazer algo divertido!".
Mas e se a tristeza tiver um propósito? E se a presença dela for importante?
A verdade é que ela existe e merece ser ouvida!
Todas as emoções e partes de nós têm um papel.
A personagem Tristeza é na verdade uma parte de nós que tenta proteger-nos… e para que possam efetivamente conhecer a senhora tristeza, resolvi fazer-lhe uma entrevista exclusiva! Aqui fica…
Eu: Olá tristeza, gostava que te apresentasses aos nossos leitores, por favor…
Tristeza: Com certeza…Eu sou a Tristeza! Sim, eu sei, que sou um bocadinho azul demais e que todos acham que eu devo afastar-me… Mas eu gostava de explicar um pouco sobre quem eu realmente sou e como eu posso ser uma amiga útil no crescimento de qualquer criança (e adulto).
Às vezes, eu apareço quando algo deixa as pessoas tristes... Com crianças, pode ser que um brinquedo que se tenha perdido, ou talvez a criança tenha mudado de escola e sinta falta dos teus amigos antigos… Quando isso acontece, eu venho para ajudar a lidar com esses sentimentos. Eu sou como uma pequena campainha que toca quando algo não está a correr de acordo com o esperado…
Eu: Como assim uma campainha, senhora tristeza, não estou a perceber… Pode explicar melhor?
Tristeza: Deixa-me explicar o que quero dizer com isso!
Quando uma campainha toca, tu paras e ouves. Eu faço o mesmo! Eu ajudo-te a parar e a prestar atenção aos teus sentimentos. Para isso tens de estar atenta ao som da campainha, não o podes ignorar…
Assim que eu chego, a “tlintar” a minha campainha é sinal que precisas falar do que estás a sentir com alguém em quem tu confies…E provavelmente precisas de um miminho… E não faz mal nem falar do que sentimos, nem pedir miminhos…O falar das nossas emoções e os miminhos ajudam a ficarmos mais fortes e confiantes!
Eu: Obrigada Tristeza…Nunca tinha pensado nas coisas dessa forma…A partir de agora vou prestar atenção à tua chegada de uma forma diferente…Mas explica-me melhor…No fundo qual é o teu papel, qual é a tua função?
Tristeza: Então, eu ajudo a processar as emoções…Quando alguém está triste, é como se eu fosse um guardião que ajuda a pensar sobre o que aconteceu. Eu permito que as pessoas “sintam” o impacto das coisas menos boas, para que possam entender melhor o que está a acontecer dentro delas. Isso é importante para que possam seguir em frente e sentirem-se melhor depois.
Eu: Boa, nunca tinha pensado nisso…E mais?
Tristeza: Eu também ajudo as pessoas a receberem a ajuda de que precisam…Por exemplo, quando alguém expressa que está triste, isso dá aos outros uma oportunidade para o apoiar. Imagina que alguém coisa te fez ficar magoado. Eu ajudo-te a mostrar aos outros que são teus amigos de verdade como te sentes, para que eles possam dar-te um abraço ou conversar contigo. Assim, eles podem estar mais perto de ti e ajudar-te a sentir-te melhor.
Eu: Uau!! É verdade!...E que dicas dás às crianças, os meus seres preferidos, para te conhecerem melhor, sem medos?
Tristeza: Tenho várias dicas!!! Eu também gosto muito de crianças! Então amiguinhos, aqui ficam algumas coisas que podem fazer para nos tornarmos amigos:
Aceitem a minha presença e falem comigo…Não tenham medo de mim, nem façam de conta que eu não existo! Ouçam o que eu tenho para dizer, prestem atenção á campainha e percebam que há algo que precisam partilhar para poderem ser ajudados… Dizer como se sentem e partilhar o que está a acontecer pode ajudar-vos a sentirem-se melhor.
Falar com alguém de confiança, como um adulto ou um amigo, pode fazer com que se sintam mais compreendidos e menos sozinhos.
Às vezes, uma pausa e um pouco de tempo para pensar podem ajudar-nos a processar o que estamos a sentir. Fazer atividades que gostam pode também ajudar a sentirem-se mais felizes.
Lembrem-se sempre que Eu, a Tristeza, sou uma parte normal da vossa vida. Então, quando eu aparecer, não se preocupem – estou aqui para ajudar-vos a aprender e a crescer!
Eu: Obrigada tristeza, espero que todos tenham percebido que não és a vilã que muitos acham que és. Na verdade, és uma guia que nos mostra que as emoções não vêm com rótulos de “boas” ou “más” – elas apenas são. E ao ensinar isso aos nossos filhos, estamos a prepara-los para enfrentar a vida de maneira mais completa e equilibrada.
Tristeza, podes aparecer sempre que quiseres, obrigada pela tua presença e pela tua ajuda!
Fátima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil