A DIFERENÇA ENTRE REAGIR E RESPONDER…
Quem é pai/mãe já passou por momentos de desespero puro, fruto de alguns comportamentos dos filhos. E, nesses momentos, a nossa vontade de que esse comportamento mude é tão grande que esquecemo-nos que o adulto somos nós…
Nós, adultos, é que temos a parte racional do nosso cérebro plenamente desenvolvida. As crianças apenas a começam a desenvolver por volta dos 3, 4 (algumas até mais tarde)…Até lá a criança é guiada meramente pelo instinto e pelas emoções. Acrescento que esta parte do cérebro tem um crescimento muito lento, apenas estando completamente formada por volta dos 27 anos!
É por isto que, muitas vezes, os pais têm de ser a parte racional dos filhos, principalmente quando estes são mais pequenos.
É que, fruto do seu cérebro racional ser a última parte do cérebro a desenvolver-se, as crianças nem sempre têm a capacidade para analisar e avaliar riscos como gostaríamos que tivessem. O que elas têm é efetivamente capacidade para reagir de uma forma instintiva e emocional e é esta impulsividade e emotividade que rege o seu comportamento. E aqui, o papel dos pais é serem uma espécie de “reguladores” emocionais dos filhos…E isso não se faz reagindo, mas sim respondendo!
Parece confuso, não é? Reagir e responder parece a mesma coisa…Mas não é!
Reagir envolve uma ação automática a uma situação, ou seja, a criança tem um comportamento desafiante e, a nossa reação instintiva é gritar…
Responder envolve uma ação pensada e construída de como vamos lidar com determinada situação.
Ao contrário do reagir, responder exige parar e refletir antes de falar ou agir…
Muitas vezes, nós pais, reagimos…A criança tem um comportamento que não gostamos e nós, sem pensar, dizemos e fazemos… Isto acontece quando a preocupação é querer mudar o comportamento da criança.
O problema (ou não) é que as crianças não são seres amestrados que fazem tudo o que nós queremos e é muito importante aprendermos a lidar com isso para conseguirmos responder de forma adequada a um comportamento que possa não ser tão adequado por parte delas...
Quando os pais conseguem entender isso, ou seja, entendem que as crianças são seres individuais que não fazem tudo o que pedem para elas fazerem, aí sim, a magia acontece!
Não quer dizer (longe disso) que a magia seja imediata...Quer dizer que começa a ocorrer uma construção saudável do EU da criança que, gradualmente, se vai mostrando e interiorizando.
A base do educar não está no esperar que a criança mude o seu comportamento, mas sim no aceitar que, na maior parte das vezes, é o adulto que tem que mudar a sua reação a esse comportamento, para que o comportamento minimize. Isto é responder!
É quando respondemos que estamos a ajudar a criança a construir-se de forma saudável, aprendendo o que é certo e o que é errado. Quando apenas reagimos, essa aprendizagem não acontece…
E como podem os pais responder? Depende muito de criança para criança mas, existem algumas estratégias base…
- Prevenção é sempre a melhor solução. Nenhuma criança (ou mesmo adulto) consegue acalmar-se se apenas aplicar as estratégias calmantes no momento do stress. Nessas alturas, o cérebro não consegue pensar.. Por este motivo é importante treinar estratégias para acalmar quando a criança está calma. Crie um ritual com a criança onde, juntos, todas as noites antes de deitar, fazem respirações profundas, por exemplo.
- Nos momentos de maior stress e desregulação emocional, valide a emoção da criança. Diga-lhe que compreende que ela esteja zangada, mas que, para poderem conversar com ela, ela precisa acalmar-se. Não fale com a criança enquanto ela está desregulada porque isso ainda a vai enervar mais. Nesses momentos o que a criança precisa é de presença, disponibilidade e…CALMA!
- Mostre-se disponível para ajudar a criança a encontrar a calma que necessita, guiando racionalmente a criança, no caos instintivo e emocional em que ela se encontra. Para isso, retire a criança do local onde a situação stressante ocorreu e tente levá-la para um local contido e mais securizante. Como já referi em cima, fale o menos possível…Nestas alturas não vale a pena corrigir ou dar grandes lições porque a criança não está a ouvi-lo/a. Além disso, quanto mais fala, mais sobrecarrega emocionalmente a criança.
O truque é manter-se presente, num ambiente contido, ajudando a criança a ir buscar a memória da respiração profunda… Mesmo que a criança não queira fazer, façam os pais…De forma calma…E num tom de voz baixo vão perguntando se a criança já está pronta para fazer também…
- Como os pais não são de ferro, dê o exemplo. Se sentir que está a começar a reagir em vez de conseguir responder, diga à criança que precisa acalmar-se. Afaste-se (se o outro progenitor ou outra pessoa poder acompanhar a criança) ou vá para um cantinho, sem sair do local onde está com a criança, e respire…Mais vale dar um tempo a si mesmo do que fazer ou dizer algo que depois se vai arrepender. O assumir que também é humano e que também se descontrola, mas ESCOLHE ACALMAR-SE é altamente benéfico para a criança!
- Finalmente, quando a criança estiver calma, ENTÃO pode (e d deve) conversar sobre o que aconteceu. Faça-o de forma calma e tente, mais do que dar soluções ou dizer como a criança pode fazer para a próxima, ajudá-la a descobrir, dentro dela mesma, as suas próprias ferramentas. Diga-lhe para pensar o que pode fazer para a próxima para não ficar tão zangada ou tão descontrolada. Pensem juntos, mas com o mínimo de intrusão no que é o pensar da criança.
Fatima Poucochinho
Psicóloga Infanto Juvenil